segunda-feira, 15 de abril de 2013

Em Valongo dos Azeites somos todos filhos da mesma mãe

E pensar que se tivesses nascido aqui, não eras metade do que és hoje.
Aqui, por trás dos montes, onde os homens choram como as mulheres, onde as mulheres trabalham como os homens, onde o vinho se faz com o que traz da terra sem se fazer acompanhar de nada. Sem cristais nem aditivos. Aqui, onde o vinho é doce e o bagaço assusta. Não haveria espaço para pensares sequer numa alternativa. Serias homem do campo e na mesma andarias a cavar com as mãos. As mesmas mãos com que já cavaste e que hoje prezas um pouco mais, mas não muito.
Mandarias todos à merda assim que passasse o primeiro desconto, aquele que se dá quando ainda não se conhecem as pessoas, e ainda se tem uma esperança que elas possam ser melhores do que aparentam.
Mandarias todos à merda, e talvez não tivesses lugar aqui. Porque o que és hoje permite-te mandares quem quiseres aonde quiseres.
Se tivéssemos todos nascido aqui, não seríamos senão homens e mulheres da terra, alguns, mas poucos, capazes de se inspirar com o cheiro do ar e da terra. Teríamos os problemas do vizinho enquanto nos esquecíamos de nós.
Hoje somos mais egoístas.
Somos mais nós e mandamos à merda quem se intrometer.