sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Canibalismo

Qualquer ideia é um bom pretexto para se trabalhar, mesmo que o fruto do trabalho pareça brincadeira.
Às vezes, as brincadeiras acabam a ser o nosso trabalho mais sério, talvez porque a estupidez seja o que nos é mais natural!
Costumo dizer, com pouco orgulho e muita preguiça, que sou uma inútil no que respeita a tecnologia aplicada às artes. Pouco orgulho, pelas razões óbvias; preguiça, porque me recusei até aqui ( e recusarei nos tempos mais próximos) a aprender a trabalhar com programas de computador como o Illustrator e afins, ferramentas, como se sabe, indispensáveis a quem pretende arranjar trabalho como ilustrador.
O ponto alto da tecnologia na minha vida, enquanto ilustradora, é a utilização de uma pen tablet, que uso de uma forma muito rudimentar. A verdade é que eu gosto de linha. Linha preta, de preferência. E, na falta de um scanner, nada melhor que poder desenhar directamente no ecrã. Simples e directo.
Há tempos, o Ricardinho desafiou-me a fazer uma série de ilustrações com ele sobre o tema Canibalismo, com o intuito de fazermos uma mini publicação a duas cores. Claro que não aconteceu nada disso, mas a motivação inicial (ou o fogo no cú, como muitos lhe chamam) levou-me a fazer algumas ilustrações com a pen tablet.
O resultado foi este que aqui se vê.

 

 

E a verdade é que sabe bem fazer por fazer.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Composições para Sebastião

Nunca fui muito dada à ilustração infantil, talvez por me ser difícil a representação humana em modo boneco, e assim que me propus fazê-lo senti um arrepio na espinha.
Fosse pela proximidade ou por conhecer os gostos artísticos dos pais do referido Sebastião, seria difícil não os desapontar. Mais fácil será agradar o próprio Sebastião, que, assim que passar as suas primeiras horas no seu novo quarto, assumirá aquele como o seu novo mundo, tenha ele ou não uns desenhos na parede.
É a primeira vez que estou a fazer ilustrações para um quarto de uma criança, e percebo agora que se trata da nossa ideia de conforto, da ideia que fomos construindo, e que nos ajudaram a construir, até chegarmos a pais. Não se trata da ideia de conforto do recém-nascido, que só agora começa a construir imagens na sua cabeça, caso contrário pintaríamos o quarto de preto, ou vermelho escuro, ou o que quer que se pareça com o interior de uma barriga materna, onde se acomodou nos últimos nove meses.
Espero que o Sebastião não se assuste com um bando de animais selvagens a cair de pára-quedas no seu novo quarto! É o modo querido que temos de lhe dizer que vivemos numa selva, e que a selvajaria dos animais é capaz de ser mais justa que a nossa....
(E assim me escapei à representação humana!)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Istambul - a caminho do mar negro


Podia ser o Tejo.
Porque, na realidade, o Bósforo tem algumas semelhanças com o Tejo. Claro que no Tejo se navega, essencialmente, de uma margem para a outra, enquanto que no Bósforo o caos reina em todas as direcções.
Mas o rio faz parte de Istambul, como o faz em Lisboa.

Não consigo olhar para este desenho sem pensar na chegada a Cacilhas em dias de chuva.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Meios termos


Seria mais fácil ser uma pessoa de meios termos. Não sou. Não sei ser, não me é natural.
Também seria mais bonito falar através de metáforas. Mas gosto do literal. Deixa menos margem para interpretações. Também é verdade que é menos poético, mas não temos todos que ter essa qualidade de encantar os outros com o que fazemos, dizemos ou escrevemos. Por isso há que estar preparado para ler aqui uma coisa feia ou estilísticamente pouco interessante - embora não acredite que alguém venha aqui para ver exercícios de escrita.
Mas voltando aos meios termos, a verdade é que não sei funcionar sem ser muito próxima dos extremos. E quando caio no erro de o tentar (porque às vezes é mesmo preciso), o resultado é quase sempre mau porque não o sei fazer... então tento fazê-lo à imagem de alguém, geralmente de alguém em quem confio nesses "meios termos". Pior ainda! Estou a ser outra pessoa, e tudo corre bem se tudo correr bem, mas tudo corre mal se a coisa for por mau caminho. Porquê? Porque estando eu a ser outra pessoa, na altura em que a coisa me fugir do controle não saberei reagir, argumentar, ou o que for preciso fazer.

Algumas metáforas para animar as hostes:

Sou um oito e um oitenta, e uma nulidade enquanto trinta e seis.
A apatia é uma fuga para lado nenhum e uma solução que nem aos outros serve.
Precisava de um relâmpago nos cornos para me dar um rumo e ter vontade! Está visto que uma palmadinha nas costas não resolve nada... é só um meio termo simpático que não cria ondas, ninguém se afoga nem luta pela vida, mas também não navega para lado nenhum.
É boiar no mar morto...

Hoje está de chuva. Com jeito, cai um relâmpago!