quarta-feira, 21 de abril de 2010

Voltando atrás...

Há coisas que não podem ser partilhadas, por mais que queiramos. Nem revividas. Coisas que nos tocam de um modo tão estranho quanto forte, e que nos levam para outro tempo, onde tudo parece ter sido perfeito, sem que o tenha sido.
Os cheiros têm essa... capacidade. Ou nós temos a capacidade de ser levados pelos cheiros...
É um tele-transporte, que peca por ser demasiado rápido. Ora se sente, ora já passou. E o cheiro da avó velhinha é rapidamente substituído pelo gasóleo queimado de um camião.

O coração acelera,
as palavras aparecem,
as lágrimas perguntam se podem,
e não há tempo para uma resposta.

Na procura da caneta, já as palavras fugiram e se transformaram noutra coisa qualquer, bem longe da "coisa" impulsionadora de toda aquela sensação.

Recolhe a lágrima.
Abranda o coração.
Voltamos ao agora.

Março de 2008

4 comentários:

Ana Oliveira disse...

:)
:(
(é triste e bonito)

Pat disse...

olha.... beijinho!! Enorme!

André Bernardo disse...

"Na procura da caneta, já as palavras fugiram e se ransformaram noutra coisa qualquer(...)"

Muito bom.

Realmente, os cheiros memorizados parecem-me o tipo de memória mais esquisito.
No outro dia, a garagem de um amigo meu foi pintada e estávamos a conversar sobre os cheiros. Divagámos um pouco. Tal como as cores, é como se existissem os cheiros primário. E o cheiro a tinta, na infância, é um deles. Parece que está sempre presente; como se todas as semanas os adultos pintassem a casa, a garagem, umas grades, etc.

adnré disse...

Cláudia lírica? afinal tem o dom da palavra quando quer!
gostei.