terça-feira, 16 de outubro de 2012

Lisboa --> Barajas

A propósito de ilustrações não publicadas, deixo aqui a primeira de muitas, feitas em Istanbul em 2011.
A viagem foi feita com o intuito de se publicar um livro de ilustração sobre Istanbul, com quatro autores: Eu, Catarina França, Pedro Fernandes (Pef) e Pedro Loureiro.
Caminhamos para o segundo ano e a edição não aconteceu, por isso chegou a hora de pôr os cadernos a apanhar ar! Pode ser que um dia a edição aconteça!



























1º dia

Fomos de Lisboa para Madrid, a caminho de Istanbul.
Encontrá-mo-nos às 9h00, e bem antes da hora estávamos no aeroporto de Lisboa a fazer o check-in. Seguimos para o Astrolábio, e por lá fizemos a nossa primeira despesa, e o nosso primeiro desenho. Seguimos para o embarque e com ele o primeiro atraso. Continuámos a desenhar, vangloriando-nos da sorte que tínhamos, pois enquanto os outros angustiavam nós aproveitávamos para desenhar. Embarcámos atrasados, não tivemos direito a uma comidinha, um carinho que fosse, e uma hora depois estávamos em Barajas para o transfer que nos levaria a Istanbul. Cinco horas depois continuávamos em Barajas. Desenhámos, inventámos interesse onde ele não existia. Depois de uma alimentação duvidosa, algumas cervejas, uma boa dose de amêndoas vindas da minha Páscoa  e três mudanças de horários, conhecemos o S33. Homem pequeno, bigode farfalhudo, t-shirt vermelha, português sabichão. Até ao fim da noite foi a nossa musa. Musa de longe, que ninguém tem paciência para sabichões...
O voo foi cancelado.
A notícia, dada por um personagem cadavérico desenhado por Egon Shiele, veio como um balde de merda nas nossas cabeças.
Seguimos para o hotel, num autocarro que parecia repetir o caminho vezes sem conta, como que dominado por um fantasma a querer-nos ingrupir. S33 era o homem que só nós víamos, o fantasma de um homem perdido e maltratado no aeroporto de Barajas, com estórias sobre o Egipto e a Roménia. Então o voo, foi bom? estão a gostar de Istanbul? A pergunta, cheia de uma ironia sabichona, repetiu-se por duas vezes e o silêncio da resposta acompanhou-se de um sorriso cínico e um sentimento de estupidez.
Depois de cambiarmos os cartões dos quartos, descemos ao caballo, onde duas cervejas e um martini nos embalaram finalmente até aos quartos.
O dia de aquecimento não podia ter sido mais lateral, mas nunca se viram quatro pessoas tão felizes depois de lhes cancelarem um voo!

Madrid - Barajas: 01h51  01/05/2011

1 comentário:

João Morgado disse...

Estória muito boa. Ao menos tiveram álcool para vos curar as feridas do adiamento.